Labirinto
Transbordava no corpo o que já dentro desaguava.
Fez-se
poça,
açude,
dilúvio;
em meio ao ar pesado que acalentava,
qual mãe zelosa ao pé do berço,
noite a dentro, madrugada,
ia meu corpo [me]
ninando sem saber quem outrora o berço balançava.
Habitava-me o desconhecido.
Aquele mesmo que em noites chuvosas,
feito manta aveludada, era par na rede da sala.
Lá, na casa que eu
não morava.
No quarto que não me guardava.
Na cozinha, me devorava.
Qual parte me cabe da tua morada? Percorrer um corpo que se esvai
demora tempo demais.
Habitar outros corpos é demasiado perigoso.
Sobretudo quando o retorno à morada primeira é preciso.
É preciso.É preciso.É preciso.É preciso.É preciso.É preciso.É
preciso.É preciso.
O abandono
é uma precisão.
[Já me
perdi outras vezes. E sempre temo encontrar-me.]
Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.
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