segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Pýrosis
Parecia que a chama da paixão ganhara concretude dentro dela.
Ardia, queimava, ardia novamente.
Um gole de água. Vai que ajuda a apagar esse incêndio interior... Nada.
É frustrante perceber que há certos incêndios poderosos por demais.
Temia que virasse pó. Ela, dentro dela, fora dela.
E já imaginava o seu corpo.
Queimado. Fragmentado. Sumindo com o vento soprado não sei de onde.
Mais um gole.
Podia ouvir o chiado da água ao se encontrar com o fogo, feito frigideira quente que a gente coloca debaixo d'água.
Não tinha mais dúvida, havia um incêndio dentro dela.
Já via a fumaça a sair pelas narinas ardidas.
Passou a aspirá-la, até enebriar-se. Até ficar com a vista turva. Já não enxergava. Olhos lacrimejantes, respiração acelerada, desorientação. Medo.
Até que seus pensamentos todos foram interrompidos pela voz tecnicamente suave da recepcionista:
"- Senhora, o 'gastro' a aguarda."
E desfez-se a fumaça.
Mas só fora dela.
Por dentro, ainda queimava.
E é só o começo, desconfiou.
Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.
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