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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Alheia

Uma vez ela ouviu da avó que não era saudável guardar os sonhos.
Fechava os olhos e lembrava da nítida imagem da senhora de cabelos grisalhos a fitar o horizonte, mas que parecia mirar a alma da menina cabisbaixa: "Não é saudável. Ouviu?"
Ouvia. Confirmava com a cabeça. A voz sairia embargada.
Sempre acontecia quando ousava mentir para a avó.
Alheia a qualquer conselho, a menina crescia e fazia de seu corpo um relicário de sonhos, desejos, utopias. Ora a empurravam para a vida e para o "seguir em frente". Outras vezes deixavam-na estática diante da grandeza e beleza de tantos sonhos. Tantos. Tantos.
Não foi saudável, decerto, tanto sonho guardado.
As palavras não foram suficientes para concretizar o que na mente se formava e o que no peito calava.
Ela tentou. Tentou muito.
Cada palavra escrita era como um desejo de tornar real os sonhos guardados, imaginados e intensamente vividos, ao seu modo.
Depois de tanto tempo, o corpo ainda reclama o peso de tanto sonho nele carregado, esperando para ser realizado. Esperando... esperando...

Desistir, às vezes, pode ser uma boa escolha.


Mas sonhar, entretanto, ainda é a opção mais ousada e revolucionária.
Mesmo que pareça teimosia e lou[cura].




Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

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