Páginas

domingo, 1 de julho de 2012

"Mas a vida é real e de viés"

Às vezes a casca de tão grossa esconde a essência do que somos.
Mas a ferida aberta inflama.
É tudo superfície, desconfio.


Ontem passei a noite a reparar na menina de gestos silenciosos e olhar distante.
Que casca era aquela?
Qual ferida ela tinha ainda aberta?
Onde ela estava, afinal?
Entre tantas perguntas fixei meu olhar na ausência dela.
Procurei em vão encontrar o horizonte para onde se voltavam seus olhos.
Que silêncio abrigava aquele corpo? Indagava-me.
Quis sentar ao seu lado e ver que cor tinha seus olhos.
Queria nada.
Me interessava mesmo era trazê-la para perto de mim.
Para essa vida que eu chamo real.
E assim o fiz.
Cutuquei, conversei, gargalhei, cantei... Tudo em vão. Tudo em vão.
Cansei.
Foi ao silenciar que consegui um pouco de sua atenção.
E na cumplicidade do olhar acastanhado entendi que a casca era toda minha.
É, menina, "a vida é real e de viés", proclamou.
E foi sem carregar-me pela mão.
E deixou-me ali sentada. Sozinha.
"Ah bruta flor!", suspirei.


Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

Nenhum comentário: