- Eu tô criando
símbolos que me ajudem a virar a página.
Disse isso
enquanto amarrava o cabelo em um coque na nuca e, ao mesmo tempo,
tirava a sapatilha com a ajuda dos calcanhares.
O amigo ouvia a
tudo atentamente e observava com curiosidade o jeito de Laura fazer
duas, três e até quatro coisas ao mesmo tempo.
- Que página
Laura?
Perguntou o garoto
branquelo, que tinha seus 16, mas com cara de 13..
- A minha página,
ô! Dã! Tô falando "dele", entende?
- É que você
mudou de assunto do nada. A gente tava falando da prova de física de
hoje.
- Por isso mesmo!
Lembrei porque não estudei nada e bombei na prova: passei a noite
ouvindo música-dor-de-cotovelo e a Física foi pro beleléu.
O garoto olhou
mais profundamente para a amiga. Gostava de ver a covinha do lado
esquerdo do rosto quando ela aumentava a expressão facial ao falar.
Gostava também do jeito que ajeitava os óculos, evidenciando
aqueles olhos que faiscavam inteligência por trás das lentes. Já
estava perdido nos pensamentos quando vê Laura estalando os dedos na
sua frente.
- Ei, allooouu! Tá
aqui ainda?
- Oi Laura, tô
aqui, claro.
Falou devagar,
como que para prolongar os pensamentos que passeavam na sua cabecinha
fervente.
- Hummm, sei.
Ficou caladão aí um tempão... que foi?
- Nada, só acho
que você precisa trocar de livro e não somente virar a página. Vai
acabar ficando de recuperação em física.
Laura deu de
ombros. Ele deu-se por satisfeito. Sabia que aquela
pseudo-indiferença significava uma noite de reflexões para Laura.
Teimosa ela. Nunca aceitaria uma opinião “de prima” dele.
Laura virou-se e
entrou no banheiro.
- Vou tomar banho.
Se quiser esperar, liga a TV aí na sala.
Laura sabia que
ele não gostava de TV, falou de pirraça e também porque julgou que
não teria outra coisa para ele fazer.
20 minutos depois
ela volta. Sala vazia. Cozinha vazia. Varanda vazia.
Na mesinha onde
ficava o som, um CD estranho aos demais chamou a atenção da menina.
Tava escrito em
letras garrafais: LAURA_SONS PARA ROER
Laura achou
engraçado. Pegou o CD e colocou imediatamente no som.
Um bilhete escrito
com caneta vermelha caiu de dentro da caixinha.
Tava escrito
assim:
“Também não
estudei física ontem.
Pensei que da
próxima vez que você fosse ouvir suas músicas-dor-de-cotovelo
poderia, ao menos, ser com estilo. Então gravei para você.
Mas só escuta nas
férias, tá? Assim não vai atrapalhar os estudos e ainda posso vir
aqui desligar o som quando o fundo do poço já tiver chegado.
Mordida na mão. Gui.”
Foi quando No Doubt começou
a tocar.
No próximo post: conheça
todo as músicas que o Gui gravou para a Laura.
Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.Don't speak
Nenhum comentário:
Postar um comentário