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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mais uma de Laura


- Eu tô criando símbolos que me ajudem a virar a página.
Disse isso enquanto amarrava o cabelo em um coque na nuca e, ao mesmo tempo, tirava a sapatilha com a ajuda dos calcanhares.
O amigo ouvia a tudo atentamente e observava com curiosidade o jeito de Laura fazer duas, três e até quatro coisas ao mesmo tempo.
- Que página Laura?
Perguntou o garoto branquelo, que tinha seus 16, mas com cara de 13..
- A minha página, ô! Dã! Tô falando "dele", entende?
- É que você mudou de assunto do nada. A gente tava falando da prova de física de hoje.
- Por isso mesmo! Lembrei porque não estudei nada e bombei na prova: passei a noite ouvindo música-dor-de-cotovelo e a Física foi pro beleléu.
O garoto olhou mais profundamente para a amiga. Gostava de ver a covinha do lado esquerdo do rosto quando ela aumentava a expressão facial ao falar. Gostava também do jeito que ajeitava os óculos, evidenciando aqueles olhos que faiscavam inteligência por trás das lentes. Já estava perdido nos pensamentos quando vê Laura estalando os dedos na sua frente.
- Ei, allooouu! Tá aqui ainda?
- Oi Laura, tô aqui, claro.
Falou devagar, como que para prolongar os pensamentos que passeavam na sua cabecinha fervente.
- Hummm, sei. Ficou caladão aí um tempão... que foi?
- Nada, só acho que você precisa trocar de livro e não somente virar a página. Vai acabar ficando de recuperação em física.
Laura deu de ombros. Ele deu-se por satisfeito. Sabia que aquela pseudo-indiferença significava uma noite de reflexões para Laura. Teimosa ela. Nunca aceitaria uma opinião “de prima” dele.
Laura virou-se e entrou no banheiro.
- Vou tomar banho. Se quiser esperar, liga a TV aí na sala.
Laura sabia que ele não gostava de TV, falou de pirraça e também porque julgou que não teria outra coisa para ele fazer.
20 minutos depois ela volta. Sala vazia. Cozinha vazia. Varanda vazia.
Na mesinha onde ficava o som, um CD estranho aos demais chamou a atenção da menina.
Tava escrito em letras garrafais: LAURA_SONS PARA ROER
Laura achou engraçado. Pegou o CD e colocou imediatamente no som.
Um bilhete escrito com caneta vermelha caiu de dentro da caixinha.
Tava escrito assim:
Também não estudei física ontem.
Pensei que da próxima vez que você fosse ouvir suas músicas-dor-de-cotovelo poderia, ao menos, ser com estilo. Então gravei para você.
Mas só escuta nas férias, tá? Assim não vai atrapalhar os estudos e ainda posso vir aqui desligar o som quando o fundo do poço já tiver chegado. Mordida na mão. Gui.”
Foi quando No Doubt começou a tocar.




No próximo post: conheça todo as músicas que o Gui gravou para a Laura.




Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.Don't speak

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