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domingo, 24 de agosto de 2014

Delírio Alencarino

Sugestão: durante a leitura, escutar : "Alice" - Tom Waits
[ou somente escutar (;]

Onde você está agora? Ouvindo o novo som cult-bacaninha blasè do momento, num quarto com piso de madeira, sozinho, no alto da serra? 

...

Não, espera. Essa sou eu. 
Já sei. Deve estar num boteco desconhecido, ensaiando alguma música pra cantar no karaokê, morrendo de rir do carinha à sua frente, tão embriagado que não se dá conta que o que tem à sua frente é um espelho. 
Mas esse foi meu sábado passado. 

E tu? O que fazias enquanto eu cambaleava nas ruas e escrevia versos na areia da praia saudando o sol intruso e ameaçador das companheiras madrugadas? 
Com quem estavas quando guardanapos roubados de um botequim, papel de pão, caneta de banco e um céu estrelado me acompanhavam nos versos teus, nunca meus?

Quais eram os teus planos essa manhã ao abrir os olhos enquanto eu fechava os meus, dispostos a sonhar em te encontrar numa esquina, na faixa de pedestre, no Pólo do Conjunto Ceará, na banca de revistas, no terminal de ônibus, na padaria, no cine Betão, no mercado, na loja de discos da Parangaba, no Paladar, no sebo da 25 de março, no vigésimo nono andar daquele prédio do centro da cidade, no passeio público, na praça do Ferreira, nos bares do Benfica, nas ruas-becos do Montese, no pôr do sol da ponte metálica, no Mirante do Morro Santa Teresinha, no canto da parede do meu quarto amarelado, nas páginas do livro esquecido aberto no bosque das letras... 

Meu corpo é todo olho e nariz.
Te farejo. 
Na esperança de ser todo colo. 
Mas não te encontro nunca. 
E sequer posso te chamar.
Tens um nome?

"I turn the hands back on the clock
                                                                                                           How does the ocean rock the boat                                                                                                              How did the razor find my throat"Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

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