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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Aviso

Laura já tinha decidido sobre a pós-graduação que cursaria.
Sabia desde cedo o que gostava, mas sobretudo o que não gostava.
Um vasto conhecimento acerca de si mesma era um orgulho.
Limites evidentes e também os escondidos.
Belezas criadas mas principalmente as espontâneas.
Aventurara-se inúmeras vezes em situações-limite.
Um auto-teste em cada esquina.. 
Uma surpresa incorporada em outras tantas.
Sabia o dia da semana que estaria mais propensa a cinema e o melhor horário para permitir descanso ao corpo.
Conhecia cada milímetro do seu corpo, cada momento de dor já vivido, cada oportunidade desperdiçada e cada sonho e teimosia insistente. 
Até considerava-se uma pessoa interessante.
Apesar de falar sozinha, cantar desafinadamente, gostar de caretas em fotografias, cheirar livros, ser levemente estrábica, escrever e desenhar no próprio corpo, ter uma bochecha desproporcional, viver assanhada e ter prazeres secretos [como morder a parte interna dos lábios, ler debaixo da cama e falar com estranhos].
Eram muitas certezas para pouca idade.

Ela só não sabia o que era o sentimento que invadia sua própria casa, seu eu todinho.
E uma corda bamba desenhou-se em seus pés.
Por medo, talvez, preferiu enviar um email. Era mais seguro. Temia a imprevisibilidade.
E das muitas cousas bonitas que ela poderia ter escrito, o melhor que ela pôde digitar foi:

De: laura.amanara@gmail.com 
Data: 27 de janeiro de 2009 07:52
Assunto: Aviso

"Eu queria tanto que você não fugisse de mim. Mas se fosse eu, eu fugia." *

Trecho da então recém descoberta canção da também recém descoberta cantora Clarice Falcão.

http://www.youtube.com/watch?v=yKV2WdyyCQw*






Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

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