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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Terra que sou. Que fui.

Vem chuva.
Aplaca-me nessa madrugada
já que poesia alguma me encontra.
Molha como se terra eu fosse
e minhas veias entranhas tuas.
Misture-se ao meu sangue, rio adormecido
que segue sorrateiro em oposição ao leito que já não bate.
Dorme.
Oxalá sonhe. Ou morra.
Para nascer outra vez.


Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Areia de ampulheta furada.
O vento, liberdade e condenação.
Os grãos se vão. Fica o vazio.

onde brisa alguma alcança.
Um não-lugar.
.presença da ausência.

onde mais uma madrugada se esvai 
nas cinzas das horas.

Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

Touch screen

Escrever com a ponta dos dedos em uma página digital.
A ilusão do alívio imediato.
Tsc tsc

Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

Calendário

Um dia a mais.
Um dia a menos.
Mais uma hora pra conta.
Menos algumas de sonhos.
A claridade faz ver. Mas também cega.
Não. Hoje não é sexta.
Nem depois de amanhã será.


Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

domingo, 18 de dezembro de 2016

quando chove e 
na verdade é poesia 
costuma ficar no meio da porta mirando o quintal a reparar os detalhes da terra molhada
e da cadela a se divertir na lama 
apesar do medo de água que a consome desde o primeiro contato com o líquido
no ventre maternal
ainda bem que a matéria da chuva é mais poesia que água





Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Rastro


Quando pousar nos meus ombros
os primeiros raios
e a febre efêmera da madrugada
já não existir
inspirarei meus rastros, feito poeira nos móveis
que a gente teima em esconder
só que ao avesso.
Exponho. Mostro.
Solto vestígios.
Não sei ao certo se é
para alguém [me] achar.
Desconfio que seja para não [me] perder.



Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Dissonante

Apenas sigo.
Entre músicas da década de 60 e textos que custo querer entender,
são letras dançantes.
O som, de chuva.
Estou quente
e assim quero permanecer.
Culpa camuflada de medo.
Medo disfarçado de desesperança.
Poderia amar, sentir, desejar, sonhar?
Tá frio lá fora.
E é cinza o mundo, as ideias, as pessoas.
Carrego um colorido dissonante no peito.
Não pesa. Suspende.
Perigoso, é.
Assumir contentamento discrepante não é são.
Resta-me seguir incoerente e colorida.
Sem placas no caminho.
Sopram os ventos.
Quente estou
e assim quero permanecer.
Blowing in the wind - Bob Dylan




Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

No centro do peito




Há algo que muda o olhar.
Miro a cidade, as pessoas e a mim mesma d'outra forma.
Esse algo indizível explode na pele.
Choveu.
Um lugar para habitar e percorrer, para contemplar e descobrir.
Amor.

Para escutar na chuva e nessa nova estação: "To love somebody", Janis Joplin.


Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

[Estômago embrulhado. A digerir concretos]

 



Dói o estômago nessa ansiedade noturna
a confundir-me com fome e sede,
uma desculpa qualquer para abrir-fechar a geladeira.
Passos roucos, sussuro pouco, grito mudo.
Silêncio que invade e desabita
na noite-quase-dia.


E dentro só anoitece.


Dói a ansiedade.
Gastrite misturada com fome.
Não me esquivo de senti-la.
Mesmo com a dor física,
a questão é não saber o porquê.

Se são as dores do mundo que se acumulam e pesam;
as palavras não ditas ou os silêncios;
a solidão ou a multidão;
o amanhã incerto ou o presente sólido a desmanchar-se no ar;
as poesias não escritas e a fome de dizê-las;
se é a vontade de ficar e o desejo de ir;
o resto e o que não será... Não sei.

Queria que fosse apenas por um nome, 
um rosto, um romance ou promessa disso.
É que, ultimamente, escapam de mim cousas assim.
Queria um eufemismo chamado paixão.
 
É melhor quando arde o peito e não o estômago.



Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

(Re)existir

Algumas madrugadas fazem despertar memórias e desejos inéditos de futuro. Palavras que não ouso dizer sequer em silêncio. Esperanças vãs. Revelam eus desconhecidos sobretudo por mim.
Madrugadas avessadas.
Atravessam minha respiração e existência. Me colocam não frente a frente, mas por dentro e ao avesso. Mil faces ocultas.Visão caleidoscópica.
Desejo de (de)existir.
Necessidade de (re)existir




Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

Esvaziar-se é preciso

São quase cinco e o vazio alarma.
Fome e ânsia
servida em bandeja nessa madrugada.
Suor e sono faltam-me.
Calo.
Tem som próprio a noite dentro-fora de mim.
Emudecer faz gritar até os poros.
Dormir alimenta.
Já estou cheia. Apesar da falta.

De inquietudes
silêncios e vazios
[desejo]
ser preenchida.
Quimera.

Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.

Entre deuses



Descansa a noite. 
Ergue-se o dia. 
É no nascer
 dos primeiros
 raios solares 
que caem
 as pálpebras
 insólitas
 e arredias. 

Rendem-se. 

Reina impávido Hypnos. 
As pestanas da 
janela 
de minha'lma 
caem. 
E sonham 
Dionisos.




Um fragmento de Neta. Evenice Netíssima.